sábado, 22 de outubro de 2011

Barcelona e as Olimpíadas de 92

Esta semana estive em Barcelona, fui ver de perto as transformações que aconteceram na cidade por ter sido sede das Olimpíadas de 92. Estava na companhia de um catalão que viveu a Barcelona de antes e que hoje se orgulha de receber visitantes e de mostrar um destino que soube aproveitar o legado que um evento de porte mundial pode deixar. Achei muito interessante meu cicerone , Enrich Azuara, dizer que antes do anúncio oficial de que Barcelona iria ser sede das Olimpíadas, eles não acreditavam que os governantes  seriam capazes de promover uma mudança tão grande como a que de fato aconteceu.  Voce conhece este filme? Meu amigo, que é um diretor cultural, disse  que Barcelona antes das Olimpíadas   estava de costas para o mar, com edifícios construídos por toda a extensão da orla que impediam a vista do oceano  e  a ventilação da cidade.  Também  não havia esgotamento sanitário, transporte urbano adequado, vias expressas rápidas,  restaurantes bem planejados, estruturas de lazer e culturais. A transformação durou dez anos!  Durante este tempo, os catalães tiveram que conviver  com o caos.  Eram obras por todo o lado.  Literalmente, desceram o martelo na cidade de Barcelona. A primeira medida foi a derrubada de todas as construções que haviam paralelas ao mar.   As fábricas foram transferidas para a periferia. Colocaram  em prática um plano urbano que deu aos moradores de Barcelona uma outra qualidade de vida. A visão do mar passou a fazer parte do cenário. Barcelona ficou de frente para o oceano. No lugar dos prédios feios e mal cuidados, surgiram pistas de bicicletas, fontes, jardins, marinas, estacionamentos subterrâneos, restaurantes modernos, bares temáticos, parques e espaços culturais. Como um cinturão circundando a cidade, construíram   uma via expressa que imprimiu um outro ritmo ao cotidiano dos moradores , além de linhas de metrô e trens rápidos.  As bicicletas passaram a ser utilizadas de forma integrada  ao sistema de transporte da cidade.  O cidadão para se locomover por Barcelona compra um passe anual para usar as bicicletas públicas que ficam enfileiradas nas saídas dos metrôs. O usuário tem quarenta minutos para se locomover de um ponto a outro e devolver a bicicleta, que não pode ser usada para passeios turísticos . A prefeitura de Barcelona faz a manutenção das bicicletas com  com carros, caminhões e profissionais treinados. Para sediar as Olimpíadas de 92 as obras de saneamento básico passaram a ser  prioridades.   Devolveram ao mar de Barcelona as condições ideais de balneabilidade e um outro aspecto a higiene da cidade. Construíram um bairro inteiro com prédios de apartamentos que abrigaram os atletas que foram a Barcelona para  as  Olimpíadas. Hoje nestes apartamentos moram pessoas de classe média alta. Na época os administradores da cidade perceberam , que um destino só agrada ao visitante se for bom para seu morador, se seu habitante tem vontade de sair de casa. Barcelona passou a chamar atenção.  Passou a ser cobiçada pelos turistas. Mas tudo tem um preço.  As mudanças também trouxeram muitas insatisfações Com  a valorização da cidade, os preços dos imóveis subiram vertiginosamente. Barcelona passou a ser um destino muito bom para turista mas uma cidade  cruel para seus moradores.  O custo de vida em Barcelona subiu. Os habitantes  então mudaram-se   para a periferia, principalmente os  mais jovens, os recém casados, os que estavam  começando a vida, uma profissão, sem reservas financeiras para comprar um imóvel caro. Barcelona começou a envelhecer.  O perfil do centro da cidade, antes lugar da alegria e energia da juventude, passou a ser triste, sem movimento, sem a personalidade de sua gente. Também mudou a mentalidade do catalão. O sonho da casa própria deu lugar ao aluguel, e com a crise  econômica por que passa a Europa e que tem atingido fortemente a Espanha,  ele está cada vez mais distante.  Hoje, inúmeras famílias estão sendo despejadas porque não conseguem pagar suas hipotecas.  É grande o índice de desemprego.  Diferente da Barcelona da Olimpíada de 92, existem muitos pedintes nas ruas, gente dormindo sob as marquises de prédios belíssimos , criando um cenário que não turista não gosta de ver  e que tem deixado indignadosmos moradores de Barcelona. Barcelona não tem cuidado tão bem de sua gente quanto cuida de seu patrimônio. Os protestos estão por todos os lados.  O povo está nas ruas, brigando  por direitos, na defesa de seus interesses. Não precisa ser vidente para ver que o turista pode mudar sua rota.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A Bahia Além do Axé!

A  Bahia irá representar o Brasil no Cantate Barcelona.
Um festival de corais onde os melhores do mundo se apresentam.
Impregnada  pelo  império do axé, é muito bom  perceber  que existe  vida inteligente além  dos acordes  potencializados  pelos trios elétricos.
É evidente que o reinado do axé  tem os méritos de fazer repercutir a Bahia através de uma música que transmite energia, alegria, que contagia, que tem artistas de valor merecido e que a gente gosta.
Mas vamos combinar... a Bahia merece muito mais.
Estive  presente no aeroporto no embarque do coral baiano para a Espanha.
Num lamento, percebi que  nenhum outro  órgão de imprensa  teve o privilégio de  estar ali para registrar o momento.
Na despedida, o coral fez uma apresentação no saguão do Luiz Eduardo Magalhães, cantando em capela  músicas que farão parte do repertório de sua apresentação no Cantate Barcelona.
Foi como um ensaio geral.
As poucos  foi juntando gente, juntando gente... até que  uma enorme platéia  eclética se formou !
No final de cada música, as palmas eram efusivas,  amplificadas  pela ótima acústica do lugar.
Baianos e turistas se misturavam   com  expressões  de incredulidade.
Jornalista  atenta, percebi  olhos lacrimejando... uma  prévia evidente de que o coral baiano vai fazer bonito em terras estrangeiras. 
Ninguém acreditava que era coisa da Bahia!
Bom constatar que  baianos,  numa faixa etária entre  30 e 80 anos,  formam um coral  afinado, cantando músicas de qualidade,  de compositores consagrados ,e que emocionam  pessoas acostumadas ao ritmo de Daniela, Ivete, Durval, Bel, Netinho e Cláudias.
Semana que vem eu embarco para Barcelona.
Vou para aplaudir os baianos.
Quero sentir e estar perto dos cantores e maestros.
 Ter orgulho de um Brasil diverso, miscigenado.
Vou para reportar.
Para abrir espaço na mídia  além dos horizontes.
Vou para me emocionar e aplaudir a  Bahia.
Ainda dá tempo  para voce  embarcar.
 Vamos?



terça-feira, 4 de outubro de 2011

Voce Sabe Viajar?

Viajar é investimento de vida.
Quem tem o hábito, sabe que uma boa viagem é como renascer.
 A gente se abre  para a vida, para o novo,  para o outro, testa os limites, as potencialidades, aprimora a civilidade, percebe as fragilidades e tem a oportunidade de aprimorar a condição humana.
É preciso saber ser um viajante.
Tem que bater a porta de casa e perceber que a vida está se abrindo para outras posssibilidades e que ao passar por elas voce tem que estar disposto e preparado para isto. 
Nem sempre isto acontece.
Tem gente que viaja e não tira o cotidiano da tomada.
Tem que desligar!
Isto exige exercício e prática.
Quanto mais viajar, menos piegas voce fica.
Aos poucos voce não permite mais que  os lenços brancos da partida  façam  o coração aos  prantos como quem vai a guerra.
Começa a perceber  que não é morte, mas o nascimento de uma nova etapa de vida.
Hora de comemorar, de treinar o riso, de se permitir estar  feliz.
Tempo de ser mais leve, mais flexível,  mais sociável, menos cri-cri.
Ao fazer malas e sair para o mundo  tem que ter  em mente que a melhor cama é a sua,  que a melhor comida é a que sai do fogão da sua casa, que o melhor banho é o que voce toma em seu banheiro e que os escolhidos para amar voce deixou na despedida quando embarcou para uma viagem.
Não é por acaso,  que 90% dos viajantes quando regressam de uma viagem exclamam: nada como voltar pra casa!!
Portanto, nada de sair pelo mundo procurando sua casa.
Nada se compara, nada se iguala, mesmo que voce coma pão com ovo, que seu banheiro precise de uma reforma e que seu colchão ainda não seja o do seus sonhos.
Para ser  um verdadeiro viajante precisa de  civilidade.
Requer elegância.
Tem que  estar aberto para o outro e para o novo.
Nada mais fora do contexto do que reclamar que a posição do quarto do seu hotel não tem a vista da praça, do mar que voce gostaria que tivesse...
Nada mais chato do que gente que reclama da temperatura da água do banho, do garçom que demorou para atender, da camareira que não trocou a toalha, das malas que demoraram para subir, do ônibus que atrasou um pouco, da falta de atenção do recepcionista, do guia que não fala português fluente, da espera da fila, do calor ou do frio.
Tem gente que compra tudo que encontra pelo caminho e depois reclama do peso das malas e não quer pagar pelo excesso de bagagem.  Pode?!
Quando viajo, tomo um antídoto contra gente chata.
Fujo delas porque são  espécimes  que contaminam.
São pragas poderosas.
Espantam a alegria.
Interrompem o ciclo natural da vida.
Querem ter o controle.
Não sabem que a graça do novo está no inesperado.
Não sabem que o verdadeiro viajante tem que ter os braços e coração abertos.
Tem que ser livre.
Porque livre tem que ser a vida.
Boa viagem!