sexta-feira, 27 de julho de 2012

Com a moeda americana tomando o caminho inverso do de 2010, a partir de abril deste ano, os sinais já começam a aparecer nas contas do governo. Evidentemente, enquanto a moeda brasileira se valorizava e os salários e a oferta de crédito cresciam, houve forte aumento das viagens nacionais e internacionais e, portanto, de gastos de brasileiros no exterior. Com a recente desvalorização de nossa moeda, era mesmo de se esperar que, entre outros efeitos, houvesse a redução tanto do número de viagens quanto dos gastos médios por viajante, ao menos em moeda estrangeira. Foi o que ocorreu. Em junho deste ano os brasileiros gastaram US$ 1,68 bilhão no exterior, sendo que no mesmo mês de 2011 o gasto havia atingido US$ 1,86 bilhão, configurando uma queda de quase 10%. Ainda assim, no agregado do primeiro semestre deste ano os gastos no exterior foram de US$ 10,7 bilhões, quase meio bilhão superior aos US$ 10,2 bilhões do ano passado. Evidentemente, os preços mais altos de passagens e dos produtos convertidos de dólar para real reduzem a demanda, numa clara observância de uma regra básica da economia, a lei da oferta e da procura. Mas os efeitos do dólar valorizado não recaíram apenas sobre o turismo e as compras internacionais. Em grande medida, a ideia de se proteger a economia brasileira contra o assédio das outras economias, tanto nas áreas de serviços e turismo como na de produtos importados, acabou por modificar os hábitos de consumo internos. Certamente o mix de produtos na cesta dos consumidores mudou, com o encarecimento dos importados. Ainda é cedo para medir esse efeito ou mesmo para avaliar se será duradouro, mas as mudanças ocorreram além das contas de viagens, e provavelmente esso movimento vai se intensificar até o final do ano. Se a valorização do dólar fosse um fenômeno de mercado, efeito natural da mudança de percepções de risco internacional e da posição do Brasil frente a economia global, nada demais. Porém, o motivo que levou o dólar de R$ 1,55 em abril para R$ 2,05 mais recentemente, uma desvalorização de quase 25% do real no período, foi a pressão do setor industrial sobre o governo para que se adotasse medidas, entre elas a desvalorização do câmbio, de proteção ao setor industrial nacional. O pleito para estimular e defender a indústria brasileira é perfeitamente aceitável, e até desejável, mas o que não se pode aceitar é que isso ocorra pontualmente, casuisticamente. Esperamos que as medidas de protecionismo arcaicas adotadas não mascarem o verdadeiro problema de todos os setores no Brasil: a falta de competitividade, baseada nos elevados custos trabalhistas, na altíssima carga tributária, na falta de formação adequada de profissionais, no baixo nível educacional e no inchaço excessivo do governo.

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